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1Q672511 | Português, Assistente Administrativo, EBSERH, VUNESP, 2020

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                                  Prazeres da “melhor idade”


      A voz no aeroporto de Congonhas anunciou: “Clientes com necessidades especiais, crianças de colo, melhor idade, gestantes e portadores do cartão tal terão preferência etc.”. Num rápido exercício intelectual, concluí que, não tendo necessidades especiais, nem sendo criança de colo, gestante ou portador do dito cartão, só me restava a “melhor idade” – algo entre os 60 anos e a morte.

      Para os que ainda não chegaram a ela, “melhor idade” é quando você pensa duas vezes antes de se abaixar para pegar o lápis que deixou cair e, se ninguém estiver olhando, chuta-o para debaixo da mesa. Ou, tendo atravessado a rua fora da faixa, arrepende-se no meio do caminho porque o sinal abriu e agora terá de correr para salvar a vida. Ou quando o singelo ato de dar o laço no pé esquerdo do sapato equivale, segundo o João Ubaldo Ribeiro*, a uma modalidade olímpica.

      Privilégios da “melhor idade” são o ressecamento da pele, a osteoporose, as placas de gordura no coração, a pressão lembrando placar de basquete americano, a falência dos neurônios, as baixas de visão e audição, a falta de ar, a queda de cabelo, a tendência à obesidade e as disfunções sexuais. Ou seja, nós, da “melhor idade”, estamos com tudo, e os demais podem ir lamber sabão.

      Outra característica da “melhor idade” é a disponibilidade de seus membros para tomar as montanhas de estimulantes e antidepressivos que seus médicos lhes receitam e depois não conseguem retirar. Outro dia, bem cedo, um jovem casal cruzou comigo no Leblon. Talvez vendo em mim um pterodáctilo da clássica boemia carioca, o rapaz perguntou: “Voltando da farra, Ruy?”. Respondi, eufórico: “Que nada! Estou voltando da farmácia!”. E esta, de fato, é uma grande vantagem da “melhor idade”: você extrai prazer de qualquer lugar a que ainda consiga ir.

                                    (Ruy Castro. Folha de S.Paulo, 29.01.2012. Adaptado)

*João Ubaldo Ribeiro: escritor baiano, autor, entre várias obras, de Viva o povo brasileiro.

Considere os trechos selecionados do texto.


• Ou quando o singelo ato de dar o laço no pé esquerdo do sapato equivale, segundo o João Ubaldo Ribeiro, a uma modalidade olímpica. (2° parágrafo)

• Talvez vendo em mim um pterodáctilo da clássica boemia carioca… (último parágrafo)


Com base nesses trechos, é correto afirmar que o autor se serve

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💬 Comentários

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Rodrigo Ferreira
Por Rodrigo Ferreira em 31/12/1969 21:00:00
Gabarito: d) O autor utiliza o exagero, também conhecido como hipérbole, para tratar do tema da velhice de forma leve e humorística. No primeiro trecho, ao comparar o simples ato de dar o laço no sapato a uma modalidade olímpica, ele exagera para criar um efeito cômico e despretensioso.
No segundo trecho, ao se referir a si mesmo como um "pterodáctilo da clássica boemia carioca", o autor usa uma imagem exagerada e inusitada para se descrever, reforçando o tom humorístico e leve do texto.
Essa estratégia retórica ajuda a abordar um tema que poderia ser tratado com tristeza ou melancolia, mas que aqui ganha uma perspectiva mais descontraída e acessível.
As outras alternativas não se aplicam porque não há denúncia de direitos (b), nem ambiguidade para descrever atitudes (c), nem comparação para expressar angústia (a), nem crítica aos jovens (e). Portanto, o exagero com tom humorístico é a figura de linguagem correta e a intenção do autor.
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