No livro Psicologia Brasileira na Luta Antirracista , publicado pelo CFP, são apresentados e debatidos conceitos fundamentais para o entendimento e para a busca da superação do racismo no Brasil. “O leitor é convidado a transitar por amplo espectro de questões e lutas sociais, na perspectiva da interseccionalidade, a fim de compreender a complexidade da tessitura social brasileira e o enredar de suas hierarquias e opressões”, como bem nos conta Ana Sandra Nóbrega, Conselheira-Presidente do XVIII Plenário do Conselho Federal de Psicologia. Marque a opção INCORRETA.
✂️ a) A definição de mulher no pensamento europeu é uma definição condicionada às funções de esposa e mãe, secundarizada como variação do sujeito completo, o homem. Essa definição demarca o lado visível do sistema de gênero moderno/colonial, no qual se constroem, se reproduzem e se impõem normativas de feminilidade pautadas numa docilização animalizadora daquelas que seriam reprodutoras da raça branca e burguesa, sendo o lado oculto a naturalização das violências em suas mais diversas formas, a partir da premissa da desumanização daquelas mulheres que foram consideradas bestiais e selvagens por sua raça. ✂️ b) Tendo em vista as condições desfavoráveis para a inserção e permanência de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, àquelas que se estabelecem profissionalmente é atribuído o rótulo da superação. Difundir a ideia deque o indivíduo superou a si mesmo pelo próprio esforço fortalece a falaciosa meritocracia, o que corrobora os interesses do capitalismo neoliberal, orientado por valores como independência, autossuficiência, individualidade e competitividade, eximindo o Estado e os empregadores da garantia das condições necessárias e suficientes para o trabalho digno às pessoas com deficiência. ✂️ c) Para a população negra, chegar à velhice é uma condição privilegiada. Mais ainda é alcançar aquela idealizada “velhice bem-sucedida”, amplamente veiculada dentro de uma racionalidade neoliberal de sucesso ou fracasso pessoal. Envelhecer bem pressupõe ter acesso, ao longo da vida, aos recursos materiais, sociais e simbólicos, fundamentais para a dignidade e a qualidade de vida. A velhice negra representa as impossibilidades estruturais do racismo no curso de vida que limitam as condições de essa população vivenciar uma boa velhice, segundo o preconizado pelas diversas organizações e instituições representativas no âmbito da Gerontologia. ✂️ d) A infância pode ser compreendida como uma categoria geracional, atravessada pelas demais variáveis sociais, como classe, raça/etnia e gênero. Trata-se de uma construção social que se refere a um conjunto de representações, imagens e prescrições socialmente concebidas. O surgimento histórico da infância como uma categoria que estrutura a vida social, caracterizada pela proteção e pela ausência do trabalho, jamais excluiu as crianças negras e pobres dessa invenção da modernidade. Para essas crianças, as imagens de pureza e inocência nunca estiveram facilmente acessíveis, restando, em muitos casos, as imagens de crianças más. ✂️ e) A sujeição vivida pelas mulheres brancas de classes abastadas e alinhadas à heteronorma produziu para elas um fictício conforto na casa grande, onde teoricamente seriam as senhoras da casa e objeto de cuidado dos patriarcas, algo que nunca foi possível para aquelas que não cabiam nem mesmo na identidade de mulher e eram submetidas à exploração laboral e sexual, inclusive nos ambientes domésticos.