“A partir do fato de que escola pública elementar tem fracassado em sua função de escolarizar a maioria das crianças brasileiras e levando em conta que as crianças mais atingidas pertencem aos segmentos mais pobres das classes trabalhadoras, o artigo analisa os determinantes da má qualidade da escola oferecida a estas crianças. Entre estes determinantes, o preconceito contra pobres e negros, de profundas raízes na sociedade brasileira, atua como poderoso estruturante das práticas e processos que se dão na escola. A superação deste estado de coisas é discutida no âmbito dos direitos da cidadania e das relações de poder numa sociedade de classes.” (PATTO, 1992, p. 107).
Esse é o resumo do artigo intitulado Família Pobre e Escola Pública : anotações de um desencontro . A despeito de o texto ter sido publicado há cerca de três décadas, há nele algo que persiste como bastante atual. Em relação a esse tema, assinale a opção correta.
✂️ a) A afirmação da patologia generalizada das crianças pobres e a patologização de suas dificuldades escolares tem como consequências a dispensa da escola de sua irresponsabilidade; a indução de uma concepção simplificadora do aparato psíquico dos pobres, com certeza menos complexo do que o de outras classes sociais; e a justificativa da busca de remédios mais simples e baratos para suas dificuldades emocionais. ✂️ b) As famílias acatam sempre os veredictos das professoras, diretoras e técnicos sobre seus filhos. Credulamente encampam, de forma acrítica, o parecer da escola e passam a procurar na história da família ou da criança fatos que expliquem a anormalidade que não haviam percebido. São gratas aos educadores pela descoberta/revelação e jamais temem qualquer crítica ou represália por parte da escola. ✂️ c) Professoras e diretoras tendem a atribuir o baixo rendimento da escola à incapacidade dos alunos e ao desinteresse e à desorganização de suas famílias. A principal forma de relação da escola com as famílias é a convocação dos pais − geralmente a mãe −, para que ouçam queixas de seus filhos ou sejam informados de algum problema mental destes "detectado" pelas professoras. Fiéis aos ensinamentos da Psicologia Educacional, as educadoras costumam encaminhar todas as crianças que não respondem às suas exigências a serviços médicos e psicológicos para diagnóstico. ✂️ d) Dada a natureza do discurso oficial sobre as vicissitudes da escolaridade das crianças pobres, não é de se estranhar que uma concepção de “ser humano” em termos de “aptos” e “inaptos” estruture a prática de professores e técnicos escolares. A maneira nada preconceituosa e positiva como se referem a seus alunos tem sido registrada repetidas vezes pela pesquisa educacional, visto que os educadores são porta-vozes de expressões de preconceitos e estereótipos seculares na cultura brasileira. O preconceito não se limita às crianças, mas engloba a família adjetivada como “desorganizada”. ✂️ e) Entre as crianças apontadas pela escola como “problemáticas”, certamente todas precisariam de um bom atendimento especializado fora da escola, como acontece com tantas crianças mais ricas que recebem apoio médico, psicológico, fonoaudiológico quando necessitam.