Texto 5
1. Mas então eu tive um mau pressentimento... Parei de tocar... A pessoa pediu:
CONTINUE! CONTINUE!
(toca e para)
Gritava: MAIS! MAIS! MAIS! SEMPRE MAIS!
5. (toca e para)
E depois...
(para a plateia)
Que aconteceu depois?
(espantada)
10. As lembranças chegam a mim aos pedaços... Ainda agora, eu era menina...
(muda-se em menina. Corre, pelo palco, trocando as pernas)
Onde está a Margarida, olé, oli, olá?
(põe-se de joelhos para espiar as águas de imaginário rio)
Vejo restos de memória, boiando num rio,
15. (aponta o chão)
Num rio que talvez não exista...
(ri, feliz)
Passam na corrente gestos e fatos...
(apanha na água invisível, com as pontas dos dedos, algo que teoricamente goteja)
20. Eis um fato antigo.
(aponta para o ar)
Vejo também pedaços de mim mesma por toda parte...
(numa revolta)
Meu Deus, como era mesmo o meu rosto, meus cabelos, cada uma de minhas feições?
25. (para uma espectadora)
Minha senhora, esqueci meu rosto em algum lugar.
Adapt.RODRIGUES, Nelson. A valsa nº 6. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. pp. 30 e 31.