Um homem de meia-idade retornou ao ambulatório de clínica
médica em cadeira de rodas, trazido pela esposa, relatando estar
a maior parte do tempo acamado. O início das dores lombares foi
há 4 meses. A dor situa-se principalmente na transição
toracolombar, permanece durante a noite e já está refratária a
uso de opioides fracos. A constipação piorou (última evacuação
há 5 dias) e o paciente não urina com tanta frequência. Quando
sente vontade de urinar, não consegue segurar completamente.
A esposa relata que o marido perdeu pelo menos uns 8 kg nos
4 meses desde o início do quadro, havendo febre vespertina
ocasional não aferida. A esposa também atualiza o quadro
dizendo que a dor parece já estar presente há mais tempo (uns
6 meses). Há aproximadamente 1 mês, ele havia sentido uma
fraqueza mais proeminente nas pernas, que o levou a cair
sentado. Desde então, não conseguiu se levantar.
Exame físico: paraplegia espástica e hiperreflexia de membros
inferiores, com redução de sensibilidade para tato, temperatura e
pressão e dor com nível sensitivo na altura dos mamilos. Havia
redução da sensibilidade profunda caracterizada por perda
completa da propriocepção e sensibilidade vibratória. O restante
do exame físico revela paciente hipocorado, um pouco
desidratado, com distensão abdominal e redução dos ruídos
intestinais. Massa palpável em hipogástrio, indolor, sugerindo
bexigoma.
Nos exames solicitados, revelaram-se anemia normocítica,
normocrômica, VHS 88 mmHg, PCR: 95 (N: até 10 mg/L),
creatinina: 1,6 mg/dl; outros exames estavam normais, incluindo
hepatograma, Na, K, Ureia, PSA. Na radiografia de coluna lombar,
não se evidenciou fratura, mas havia alterações degenerativas
comuns para a idade em região sacroilíaca e acetabular.
O radiologista sugeriu redução da densidade óssea, mas não
havia lesões líticas ou blásticas. Havia achados de fecalitos em
região retossigmoideana e provável bexigoma pela análise da
radiografia. O médico decidiu interná-lo imediatamente para
investigação e tratamento.
Em relação a esse caso, é correto afirmar que:
✂️ a) a principal hipótese é de mielite transversa, e os exames
complementares mais importantes a serem realizados nesse
caso são ressonância de coluna lombar e punção lombar; ✂️ b) dado que a probabilidade de osteomielite e abscesso epidural
é baixa, como é possível concluir pela radiografia de coluna,
pode-se iniciar corticoide 1 mg/kg para síndrome de
compressão medular; ✂️ c) como a fosfatase alcalina, gama glutamiltransferase (GGT) e
transaminases estão normais, não é necessário investigar os
níveis séricos de cálcio e fósforo; ✂️ d) as alterações degenerativas e provável osteopenia na
radiografia de coluna lombar, somadas ao quadro de
claudicação neurogênica, sugerem fratura osteoporótica
compressiva. Nesse caso, o médico deve optar pela realização
de tomografia de coluna lombar para visualização da fratura e
rápido encaminhamento ao serviço de neurocirurgia ou
ortopedia; ✂️ e) o paciente possui vários sinais de alarme: febre, perda
ponderal inexplicada, dor noturna e refratária e
manifestações neurológicas graves. Essas últimas motivam a
realização de ressonância de coluna torácica e lombar de
urgência para investigação de síndrome de compressão
medular.