Atenção: Use o texto abaixo para responder às questões de números 6 a 8.
Eu, etiqueta
Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés. [...]
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, premência, Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada. [...]
Não sou ? vê lá ? anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender [...]
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.
(Carlos Drummond de Andrade. Corpo. Rio de Janeiro, Record, 1984)