O ex-Prefeito do Município X foi condenado, em três processos,
por ato de improbidade administrativa a ressarcir o respectivo
dano ao erário.
Ocorre que, durante a fase do cumprimento da sentença, restou
apurado que o demandado possuía em seu nome apenas um
automóvel, ano 1994, no valor de R$ 17.000,00 (dezessete mil
reais), montante insuficiente para cobrir o dano a ser ressarcido,
pois, ainda durante a fase de conhecimento, transferiu todos os
seus imóveis e valores em espécie para formar o capital social de
uma sociedade empresária familiar, da qual seus dois filhos
também são sócios.
A pedido do Ministério Público, o Juiz reconheceu a ocorrência de
fraude à execução nos três processos, nos termos do Art. 792 do
Código de Processo Civil.
Na qualidade de Promotor(a) de Justiça com atribuição para
tutela do patrimônio público, analise a hipótese e assinale a
afirmativa correta.
✂️ a) A atuação do Ministério Público foi correta, trata-se de caso
de fraude na execução, que deve ser reconhecida no bojo de
cada processo por ato de improbidade administrativa, não
havendo, na dinâmica narrada, repercussões extrajudiciais
diversas. ✂️ b) A constituição de sociedade empresária para ocultar bens, de
forma a burlar as consequências do reconhecimento judicial
do ato de improbidade, pode caracterizar ato tipificado na Lei
Anticorrupção; logo, cabe instaurar inquérito civil para apurar
as atividades desenvolvida pela sociedade empresária e
buscar a aplicação de sanções à luz da lei anticorrupção. ✂️ c) A sistemática jurídica dos casos de improbidade
administrativa foi drasticamente alterada em 2021, quando a
Lei nº 14.230/2021 firmou posição no sentido da
impossibilidade de sancionamento dúplice (bis in idem ) pela
Lei nº 12.846/2013 (Lei Anticorrupção) e pela Lei nº 8429/92
(Lei de Improbidade); logo, a hipótese só deve ser tratada
pelo viés da Lei de Improbidade Administrativa. ✂️ d) A liberdade econômica é um princípio constitucional que
valoriza a livre iniciativa e a função social da sociedade
empresária, logo, a sociedade constituída a partir do
patrimônio do ex-Prefeito, condenado por diversos atos de
improbidade administrativa a ressarcir o erário, não pode
sofrer qualquer consequência decorrente da forma pela qual
se operou a sua constituição; trata-se de pessoa jurídica com
personalidade própria que não se confunde com a pessoa de
seus sócios. ✂️ e) A constituição da sociedade empresária por si só constitui ato
de improbidade administrativa, uma vez que que atentatório
aos princípios da Administração Pública, logo, provado o dolo
da conduta, o ex-Prefeito e os demais sócios da sociedade
deverão ser responsabilizados nos termos do Art. 11 da Lei nº
8.429/1992, modificada pela Lei nº 14.230/2021.