Em Dois pequenos problemas com a lei terra intangível para os
Kisêdjê , Marcela Coelho de Souza examina a conexão entre o
povo Kisêdjê e a terra. A autora propõe o conceito de “terra
intangível”, que desafia a compreensão ocidental de propriedade
e posse. A autora argumenta que:
"A despeito do possessivo na expressão nossa terra , não acredito
que esta ‘terra’ de que estejam falando seja mais dócil ao
instituto da propriedade e à medição e delimitação que ele
implica. As imagens — legais ou científicas — de terra como bem
imóvel ou substrato físico são analogias muito pobres para a
compreensão do que está em jogo para os Kisêdjê” (Coelho de
Souza, 2017, p. 123). A "terra intangível" para o povo Kisêdjê pode ser compreendida
como:
✂️ a) um espaço sagrado e intocável, onde a intervenção humana é
proibida; ✂️ b) uma propriedade individual de cada membro da comunidade
Kisêdjê, que pode ser herdada e alienada de acordo com
regras simbólicas de sucessão; ✂️ c) um território definido por limites fixos e marcos geográficos,
passível de ser delimitado em um mapa; ✂️ d) uma área delimitada para a prática da agricultura intensiva,
garantindo a segurança alimentar e o desenvolvimento
econômico da comunidade; ✂️ e) um entrelaçamento dinâmico de relações, histórias e
memórias, fundamental para a identidade e a continuidade
cultural do povo Kisêdjê.