Para muitas perspectivas, sobretudo para o senso comum, a escola é um espaço de democratização do conhecimento e ascensão social das camadas sociais mais carentes. Entretanto, para pensadores como Bourdieu, não é isso que a escola vem propiciando, desde sua origem. Para o autor, com a entrada dos menos abastados na escola, o que se fez foi substituir a eliminação clara e evidente dessa camada social logo no início da escolarização, por uma eliminação suave e diluída desses jovens ao longo desse processo. Dessa forma, criam-se no cenário escolar diversas mecânicas, como classes de aceleração ou a aprovação com dependência em disciplina para maquiar a exclusão desses jovens. Como consequência desse processo, vemos alunos saindo da escola com uma grande defasagem idade/série e, quando se formam, com diplomas socialmente desvalorizados. Dessa forma, para Bourdieu, essa escola “para todos” é ainda mais perversa do que seu modelo anterior, na medida em que:
✂️ a) exerce sobre os alunos de maior capital cultural uma forte violência simbólica, pois passam a ser minoria na escola e passam por um processo de deslegitimação de sua cultura; ✂️ b) nega aos alunos menos abastados a apropriação de capital cultural legítimo, preferindo educá-los a partir de valores simbólicos mais próximos de sua realidade marginalizada; ✂️ c) mesmo possibilitando a ascensão de classe, esse modelo de escola também dá espaço para que o processo inverso ocorra, garantindo a manutenção da desigualdade social; ✂️ d) oculta e legitima a exclusão desses alunos, criando a ilusão de uma oportunidade de escolarização que em realidade não existe; ✂️ e) põe sobre o mesmo teto alunos de diferentes camadas sociais, não criando espaços diferenciados para alunos de menor capacidade intelectual.